Imagem: Montagem/Reprodução
Perfis biográficos assinados por Yasmin Santos
e Sueli Carneiro destacam a importância das duas autoras no cenário intelectual
do Brasil
Conceição
“Não vou conseguir dar um depoimento, uma coisa seca sobre mim mesma”,
disse Conceição Evaristo à jornalista Yasmin Santos, que preparava um
livro sobre a vida dela. “Falar da minha origem, da minha família, da favela,
coisas que inspiram minha criação literária, faz com que eu navegue pela
ficção. Trazer à memória é fazer ficção.”
Uma declaração como essa, que faria uma fila de biógrafos terem arrepios
dos pés à cabeça, foi recebida com naturalidade por Santos. Ela respondeu que,
quando se trata de lembrar, autoficção era inevitável.
A autora de “Ponciá Vicêncio” seguiu então mais à vontade para desfiar
causos de sua infância em Minas Gerais, de seus trabalhos domésticos ainda
criança, de sua mudança de BH ao Rio de Janeiro para dar aulas, do casamento
com o grande amor de quem ficou viúva, de seus primeiros momentos tateando a
ideia de escrever algo para ser publicado.
Leila
“Sueli
conheceu Lélia vindo de uma geração posterior e, assim, consegue oferecer uma
visão nuançada, multifacetada de quem ela era”, diz Fernanda Silva e Sousa, que
editou o livro na Zahar. Carneiro preferiu não dar entrevista, mas retrata
Gonzalez numa posição de reverência.
O livro permite entrever uma pessoa que
avançou conceitos como a interseccionalidade e a “língua portuguesa”,
elaborando uma visão global sobre os efeitos do racismo, do machismo e do
colonialismo, além de mergulhar na militância partidária na redemocratização e
se transformar em referência para a americana Angela Davis.
A mineira Lélia Gonzalez tirava lições públicas de sua história privada. Projetou-se ao cenário internacional a partir de uma família pobre de 18 irmãos em Belo Horizonte e refletiu sobre a adoção do estilo black power no seu próprio visual como meio de transformar a própria imagem em instrumento de mobilização política.
A inserção do pessoal no intelectual
integra tanto o trabalho das biografadas quanto o das autoras de seus perfis.
“É uma escrita negra que reivindica essa subjetividade”, afirma Fernanda Silva
e Sousa.
A inserção do pessoal no intelectual integra tanto o trabalho das biografadas quanto o das autoras de seus perfis. “É uma escrita negra que reivindica essa subjetividade”, afirma Fernanda Silva e Sousa.
Fonte: O Estado de Minas