quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Jeferson Tenório, autor de "O Avesso da Pele" lança, em novembro, livro inédito sobre cotas

 Imagem: Reprodução

Após obra que se tornou obsessão de bolsonaristas em março, novo livro 'De Onde Eles Vêm' vai aprofundar debates raciais no país

O escritor Jeferson Tenório está prestes a lançar seu próximo romance, previsto para novembro. Após alcançar o sucesso com o "O avesso da pele", que recebeu o Prêmio Jabuti e vendeu mais de 200 mil exemplares desde seu lançamento, além de enfrentar diversas censuras impulsionadas pela extrema direita no início deste ano, o autor se dedica a uma nova história.

Em 'De onde eles vêm', Tenório nos leva para Porto Alegre dos anos 2000, onde um jovem negro, apaixonado por literatura, enfrenta os desafios da vida universitária e da sociedade brasileira. A cidade é onde o escritor se estabeleceu como professor universitário e a trama explora a jornada de autoconhecimento do protagonista, marcado pela experiência das cotas raciais e pela busca por sua identidade.


Muito provavelmente, os governadores que censuraram o livro e outros personagens do espectro conservador não leram "O avesso da pele". Os momentos em que questões sexuais são abordadas, não somam mais que 15 linhas. O ponto de partida de "O avesso da pele" é a busca de Pedro, após a morte de seu pai, a partir das memórias afetivas e materiais deixadas pelo seu progenitor, que era professor da rede pública, reconstruir as suas lembranças e afetos maternais e paternais.

A partir do exercício memorial do personagem Pedro, o escritor Jeferson Tenório traça uma arqueologia da construção da estrutura racista no Brasil que nos leva ao fim da escravidão e à primeira etapa pós-colonial do país. Dessa maneira, a partir das histórias do pai e da mãe do personagem central, nos é apresentada a formação geográfica, de classe e, consequentemente, racial das cidades de Porto Alegre, Florianópolis e Rio de Janeiro. Organização social que segue intocada até hoje.

No contexto geral de "O avesso da pele", a questão sexual é quase insignificante, visto que o foco do livro é apresentar como o racismo estruturado desumaniza, de forma gradual e violenta, as pessoas negras do país. Daí que Jeferson Tenório mostra, de maneira didática, os processos de tal política que insiste em expulsar as pessoas negras da esfera da cidadania.

A partir das memórias de Pedro, acompanhamos as batalhas de Henrique (pai) e Martha (mãe), que aqui podem ser lidas como alegorias sobre o cotidiano de pessoas negras no Brasil, que passam a entender ao longo de suas respectivas existências que o espaço público não é para eles. Os seus corpos estão sempre na expectativa de que serão expulsos.

Em determinado momento da obra, Jeferson Tenório faz uma lista, uma espécie de relatório de todos os enquadros policiais que o pai de Pedro recebeu ao longo da vida, mesmo quando homem adulto e professor (como o próprio personagem reflete), o seu corpo nunca deixou de ser suspeito. Uma realidade que persiste no Brasil. 

Fonte: Revista Fórum