quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Rússia x Ucrania


Durante os últimos 30 anos a Rússia tem  tentado com persistência e paciência acordar com os países-líderes da OTAN sobre os princípios de segurança igualitária e indivisível na Europa.

Em resposta os países membros da OTAN  responde com  mentiras ou tentativas de pressão e chantagem. Enquanto isso, a Aliança Atlântica, apesar de todos os protestos e preocupações, continua se expandindo. O veículo militar avança. Cada vez chegando mais e mais perto das fronteiras russas.

Por que tudo isso acontece? De onde vem essa maneira arrogante de falar de posições de exclusividade, infalibilidade e permissão para fazer tudo? De onde vem essa atitude que desdenha os interesses e exigências totalmente legais dos países?

Para procurar entender esse desejo por conquistas, baseadas em mentiras fantasiosas,  devemos lembrar alguns aspectos da ingerência dos Estados Unidos na OTAN, vamos lá:

Primeiro, sem nenhuma autorização do Conselho de Segurança da ONU realizaram uma operação militar sangrenta contra Belgrado, usaram aviação e mísseis bem no centro da Europa. Várias semanas de bombardeios sem parar contra cidades e infraestrutura vital. Temos que voltar a lembrar esses fatos, já que uns países do Ocidente não gostam de lembrar esses eventos, e quando se fala disso, costumam se referir não a normas do direito internacional, mas a circunstâncias que interpretam como corretas.

Depois chegou o turno do Iraque, Líbia e Síria. O uso ilegítimo  da força militar contra Líbia e a distorção de todas as decisões do Conselho de Segurança da ONU sobre a questão Líbia levaram à destruição completa do Estado líbio, sem contar no surgimento de um gigantesco foco do terrorismo internacional e uma catástrofe humanitária incessante, que levou ao afundamento do país em uma guerra civil de vários anos.

Uma tragédia, a que foram submetidas centenas de milhares de pessoas não só na Líbia, mas também em toda a região, ocasionou uma saída migratória massiva do Norte da África e do Oriente Médio para a Europa.

Esse destino foi preparado também para a Síria. As ações de combate de coalizão do Ocidente no território deste país, sem permissão do governo sírio e autorização do Conselho de Segurança da ONU, nada menos são do que uma agressão, uma intervenção.

Entretanto, um lugar especial nessa fila tem com certeza a invasão do Iraque, também sem nenhum fundamento de direito. Como pretexto foi escolhida a alegada verdadeira informação que tinham os EUA sobre a presença de armas de destruição em massa no Iraque. Como prova disso, publicamente, aos olhos de todo o mundo, o secretário de Estado dos EUA sacudiu um frasco com uma pólvora biológica, afirmando que se tratava de uma arma química que estava sendo desenvolvida no Iraque.

Depois, veio à tona que tudo era uma falcatrua, um blefe. Não havia nenhuma arma química no Iraque.

 Incrível e surpreendente, mas fato continua sendo fato. A mentira teve lugar no mais alto nível estatal e das tribunas altas da ONU. Como resultado, múltiplas vítimas e destruições. Um surto incrível do terrorismo.

Em geral, tem a impressão de que em praticamente todo lugar, em muitas regiões do mundo onde o Ocidente vem para instalar sua ordem, como resultado são presenciados ferimentos sangrentos, úlceras do terrorismo internacional e extremismo.

Bom frisar também a existência de um compromisso firmados com a Rússia em não expandir a OTAN para o Leste em nem mais um centímetro.

Pois é, NÃO CUMPRIRAM O ACORDO!

Sim, frequentemente pode se ouvir que a política é um negócio sujo. Pode ser. Mas não tanto assim. Não desta forma. Este comportamento de trapaceiro não só contradiz os princípios das relações internacionais, mas também os princípios estabelecidos de moralidade e virtude.

E onde estão a justiça e a verdade? Só há lugar para mentira total e hipocrisia.

Voltando a questão da Ucrânia  em dezembro de 2021, mais uma vez Putin tentou chegar a um acordo com os EUA e aliados sobre os princípios de segurança na Europa e de não extensão da OTAN. Tudo em vão. O posicionamento dos EUA não muda. Eles se acham donos da verdade não acham necessário negociar com qualquer país. Seguindo seus objetivos, eles desprezam os objetivos de outras nações. E com certeza, nessa situação surge a questão: o que fazer?  O que esperar?

Sabemos muito bem que no ano 40 e no início de 41 do século passado, a União soviética tentou com todos os meios prevenir ou ao menos adiar o início da guerra. Para isso, tentou, dentre outras coisas, não provocar até o final o potencial agressor, não realizava ou adiava as ações mais necessárias e óbvias para se preparar a repelir um ataque inevitável.

Foi um erro, nos primeiros meses de ações de combate, foram perdidos territórios gigantes e estrategicamente importantes, e milhões de pessoas. É isso que a Rússia tenta evitar agora que este erro aconteça pela segunda vez.

Aqueles que reivindicam o domínio mundial publicamente, sem pena e, sublinho, sem quaisquer justificativas para isso nos declaram, ou seja, a Rússia, seu inimigo. Eles, na verdade, dispõem hoje em dia de grandes capacidades financeiras, científicas, técnicas e militares.

Em se tratando da esfera militar, a Rússia moderna mesmo após a dissolução da URSS e a perda significativa de seu potencial é hoje um dos Estados com armas nucleares mais fortes do mundo. E ainda mais, tem certas vantagens em uns dos tipos de armamento mais moderno. Considerando isso, ninguém deve ter dúvidas de que um ataque direto ao país levaria a derrota e consequências terríveis para qualquer agressor potencial.

A expansão da OTAN tem apenas um objetivo, a hegemonia política dos Estados Unidos, que sempre se arvoraram donos do mundo e não passam de terroristas de Estado.

Acreditamos em uma saída diplomática mas temos total convicção que Putin está com razão em repelir a ameaça americana.

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

12 de fevereiro: Dia do Orgulho Ateu


Em 12 de fevereiro é comemorado o Dia do Orgulho Ateu. A data em questão, uma referência ao nascimento de Charles Darwin, não foi criada para “converter” pessoas ao pensamento cético ou tampouco representa uma afronta às religiões.

Pelo contrário, trata-se de uma grande oportunidade para refletirmos a respeito dos preconceitos vivenciados por ateus e agnósticos em nossa sociedade e também pensarmos sobre a necessidade de se consolidar um Estado brasileiro que seja realmente laico, isto é, que garanta a liberdade de culto, o direito à não-crença e, sobretudo, que possa assegurar que convicções religiosas sejam restritas ao âmbito privado e não interfiram nas políticas públicas.

 Quando se fala em preconceito, as imagens de pobres, negros, mulheres e homossexuais vêm logo à nossa mente. Certamente, são as discriminações mais visíveis.

Por outro lado, a ateofobia (discriminação contra ateus) é uma questão ainda pouco debatida. Em outros termos, isso significa que os constrangimentos passados por ateus e agnósticos em seus cotidianos passam desapercebidos pela maioria de nós.

Não é raro uma pessoa ser segregada nos ambientes familiar, de estudo ou trabalho pelo simples fato de não possuir uma crença religiosa. Hostilizar ateus e agnósticos por causa de suas concepções existenciais ainda é uma prática bastante tolerada.

Não obstante, o que torna essa questão ainda mais controversa é o fato de muitos religiosos acreditarem que, ao se voltarem contra ateus e agnósticos, estariam supostamente agindo de acordo com os preceitos de sua crença.

Evidentemente, religião não define a conduta de um indivíduo. Ateus como Saramago, Marx, Nietzsche, Chaplin, Carl Sagan, Sartre, Oscar Niemeyer e Herbert de Souza foram excelentes profissionais em suas respectivas áreas.

 Em contrapartida, Hitler, Mussolini e Jim Jones, cristãos fervorosos, foram responsáveis pelas mortes de milhões de seres humanos. Ao contrário do propagado pelo senso comum, nem ateus são inerentemente “maus”, nem religiosos são automaticamente “bons”.

Já a reinvindicação de um Estado verdadeiramente laico é uma causa que extrapola os limites dos debates entre crentes e ateus, pois representa uma questão que atinge praticamente todos os âmbitos da sociedade.

Em um país como o Brasil, marcado por inúmeros retrocessos nos anos últimos, a mistura entre assuntos religiosos e políticos têm sido responsável por impedir debates sérios sobre questões de extrema importância como aborto, direitos da comunidade LGBT e a necessidade de trabalhar temáticas como “identidade de gênero” e “orientação sexual” nos currículos escolares.

Exercitar a alteridade, ou seja, saber se colocar no lugar do outro, é uma prática fundamental para lidar com a grande diversidade presente em nossa sociedade. Assim como não é preciso ser mulher para apoiar o feminismo, ser negro para combater o racismo, ou ser homossexual para ser favorável às causas de gays e lésbicas, religiosos também podem defender o direito de ateus e agnósticos de se manifestar em público sem correr o risco de sofrer preconceito, assegurando assim que a opção de ter ou não uma crença religiosa seja devidamente respeitada.

Enfim, com todo o risco de cometer um truísmo, sempre é bom recorrer à famosa citação (erroneamente atribuída a Voltaire): “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-la”.


OBS: O autor deste blog é ateu.