segunda-feira, 11 de julho de 2011

Fogueira das vaidades


Descobri o artigo abaixo "zapeando" pela internet e resolvi publicá-lo, vez que é apropriado para o momento, quando dirigente partidário faz questão de estar em palanque oficial, quando os convidados são autoridades eleitas,como prefeitos, deputados, etc,ou com cargos de alto nível,como juízes, comandantes militares e afins.

Fogueira das vaidades

Muitos de nossos problemas se devem à vaidade humana. Querer ser sempre mais. Tese: todos temos uma cota de vaidade, que vai desde sua quase ausência até sua presença ostensiva, da humildade à arrogância.

O grau zero é o altruísmo. Há pessoas que cumprem seu papel nas relações pessoais e profissionais exemplarmente. Antecipam problemas, propõem soluções e jogam pelo time. Alegram-se com as vitórias alheias porque são vitórias do coletivo. Não têm medo de desfazer o malfeito, ainda que isso lhes valha antipatias pela ousadia de mexer no “status quo”, fruto de anos de vaidades e personalismos. É bom conviver com quem se vê parte de um todo e que faz a sua parte sem alarde e sem se preocupar com as conseqüências para si. Pelo menos num primeiro momento, pois se esvaziar totalmente das consequências é leseira baré.

Assombro-me com o número de pessoas que hoje busca somente seu ganho pessoal, tanto financeiro quanto simbólico. Há uma disputa de poder irritante e desmotivadora para quem tem que gerenciar conflitos. Pela vaidade, as pessoas bloqueiam ações, atrasam e sabotam projetos coletivos. Resistem a se mover por que acham que nada mais têm a aprender. Seu autoconceito é completo e já finalizado.

A vaidade corrói. O trabalho alheio que aparece desperta no vaidoso a vontade de marcar posição, de lembrar ao mundo que ele também existe. São atos de mesquinharia em que são investidas todas as suas forças. O vaidoso faz uso da autoridade possível para tentar elevar-se à altura daquele que disparou seu instinto de vaidade.

Pequenas vaidades sacrificam as relações afetivas, sociais e profissionais. É triste saber – porque se acaba sabendo – que a pessoa que elogia seu desempenho na segunda lhe fere com sua inveja, irmã da vaidade, na terça.

Meu pai tinha um fusca azul nos anos 70. No vidro, um adesivo dizia: “a inveja é a arma dos incompetentes”. Acrescento: a vaidade é inversamente proporcional ao lastro de sustentação do vaidoso. Quanto mais vaidoso, menos razão para ser o infeliz tem. O mais vaidoso intelectual é um leitor de orelhas de livros. O menos vaidoso é tão humilde que é rotulado de excêntrico, fora do normal. O normal hoje é ser vaidoso.

Se você precisa lembrar que é bom no que faz, não é. Não dá para querer ser maior do que se é. É ridículo um juiz que se crê acima da lei, um professor sabe-tudo, um político que acha que com jeitinho pode tudo, um jogador de futebol que passa a perna sobre a bola e já se acha um Robinho… Vaidade e falta de autocrítica são irmãs.

Perguntemo-nos: só faço isso porque ganho algo? Só faço isso para ter meus 15 minutos de fama? Sou vaidoso ou invejoso? Será que não preciso de duas pílulas de semancol para ver se fico menos travoso?

A vaidade é a ferrugem do elo social. É a areia na engrenagem do coletivo. Nesse ano percebi como somos vulneráveis a sermos suas vítimas. Perdi um pouco de fé na humanidade pelo acúmulo de situações limites. Mas os vaidosos nem se aperceberam disso. Estão preocupados polindo seus espelhos. Ou ardendo em suas fogueiras.

Autor: Sérgio Freire