Os espermatozoides avançam para o óvulo. Para quem não quer bebês, está cada vez mais fácil evitar esse encontro
Até pouco tempo atrás, a mulher que desejasse um método contraceptivo permanente deveria submeter-se a uma laqueadura das trompas. Era preciso encarar os riscos de uma cirurgia e resguardar-se durante um período semelhante ao de uma cesariana. As que não topassem a maratona – e a maioria não topava, mesmo com a certeza de que não queria mais engravidar – teriam de continuar com os métodos tradicionais até que a menopausa chegasse. Agora isso mudou um pouco. Há no mercado de anticoncepcionais uma novidade e uma boa aposta.
A novidade que chegou a alguns hospitais públicos brasileiros – e já se tornou padrão na Europa e nos Estados Unidos – consiste em uma técnica de obstrução das tubas uterinas. Implantam-se filamentos que impedem o encontro entre óvulo e espermatozoide. O material (de cerca de 4 centímetros) é colocado pela vagina e posicionado nas tubas uterinas, obstruindo-as (como mostra o quadro abaixo). O procedimento pode ser feito no consultório, com ou sem anestesia, e leva dez minutos. A segurança é a mesma de uma laqueadura (na qual se interrompem as tubas uterinas) e, como ela, é definitiva, embora mais simples. O número de laqueaduras anuais nos hospitais públicos brasileiros dobrou para 65 mil entre 2003 e 2009. Há filas de espera.
O novo procedimento atrai mulheres como a arquiteta Ana Maria Pontes, de 37 anos, mãe de gêmeos. Ela teve seus bebês aos 25 anos e desde então tomava pílula anticoncepcional. “Meu desejo era algo definitivo que não fosse agressivo como a laqueadura”, diz. Ana passou pelo implante de filamentos há duas semanas. “Senti uma cólica leve na hora, mas trabalhei no mesmo dia.” O procedimento foi feito em uma clínica particular de São Paulo. Recentemente, passou a ser incluído em planos de saúde, como a vasectomia. Ana vai usar camisinha até fazer uma radiografia para certificar-se de que o implante foi bem-sucedido. O dispositivo colocado por ela foi aprovado pela Anvisa, no Brasil, e pela FDA, que regula os medicamentos nos EUA. “A técnica só não decola no Brasil por causa do preço”, diz o ginecologista Luciano Pompei, da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. O custo é de R$ 7 mil, equivalente a uma laqueadura.
Se esse novo procedimento cria uma alternativa menos invasiva para a esterilização feminina, outro promete fazer o mesmo no campo masculino. Por ele, a vasectomia pode se tornar ainda mais simples – e convenientemente reversível. Em vez de romper os canais deferentes (que levam o espermatozoide dos testículos para a uretra), os cientistas estudam uma substância injetável que destrói a capacidade de locomoção dos espermatozoides. Sem mobilidade, eles não têm como chegar ao óvulo e fecundá-lo. “A vasectomia reversível é o sonho de todo homem”, diz o médico urologista Ubirajara Ferreira, da Unicamp. O novo método está sendo testado por vários pesquisadores, mas nenhum deles se arrisca a dar um prazo para que ele chegue aos consultórios médicos.
Na contracepção feminina, as alternativas são mais numerosas. Além do implante tubário, há novas pílulas anticoncepcionais com dosagem hormonal baixa, que atendem diferentes perfis de mulheres: quem está amamentando, quem é hipertensa e até quem vai entrar na menopausa. No mês passado, chegou ao Brasil uma pílula que usa um hormônio sintético idêntico ao estradiol, produzido pela mulher. Espera-se que ela reduza os efeitos colaterais dos anticoncepcionais comuns.
Outro método seguro – e não definitivo – que ganha adesão feminina é o anel vaginal. Feito de silicone, ele libera hormônios diretamente na circulação sanguínea. Sem a passagem pelo estômago e pelo fígado, diminui a náusea e a dor de cabeça, sintomas comuns entre as mulheres que tomam pílula. O anel vaginal tem a vantagem de ser colocado apenas uma vez por mês.
Por maior que seja o avanço dos métodos contraceptivos – como a vasectomia reversível, ainda em estudo, ou o dispositivo intra-tubário, já no mercado –, não há sinal de que qualquer um deles possa proteger seus usuários de doenças sexualmente transmissíveis. É por isso que a camisinha, mais fina e mais resistente, mantém o posto de parceira permanente de homens e mulheres.
Fonte: Revista Época