domingo, 11 de agosto de 2024

TCU tenta salvar o inelegível

 Imagem: Reprodução


Uma tropa de ministros alinhados politicamente com Jair Bolsonaro

 no Tribunal de Contas da União, o TCU, está a cargo de decisões 

que podem livrar o ex-presidente das consequências legais de suas 

ações no governo e colocá-lo de volta ao tabuleiro político. 

O movimento teve mais um capítulo nesta semana, com uma decisão 

que favorece Bolsonaro no caso das joias. Mas não começou agora.


O protagonismo político do TCU vem, no mínimo, desde o impeachment 

de Dilma Rousseff, em 2016. Na ocasião, a Corte se engajou 

na deposição da petista com a rejeição das contas do governo de 2015,

 baseada no argumento das “pedaladas fiscais”. Grupos de auditores, 

por sinal, foram os primeiros a adotar publicamente o termo.

 Anos depois, o próprio TCU arquivou o caso e absolveu os envolvidos.


Agora, ministros do mesmo TCU voltam aos holofotes da cena política. 

Na quarta-feira, a corte tomou a decisão de liberar o presidente Lula

de devolver um relógio de luxo. 


Assim, estabeleceu a tese de que, sem uma legislação específica, 

tais presentes não podem ser classificados como bens públicos – 

o que foi tido por especialistas como uma grande vitória de Bolsonaro

 no caso das joias sauditas. 


Não à toa, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, do PL de São Paulo, 

saiu em defesa dos ministros da Corte. “Lula quer mandar no TCU”,

escreveu o filho do ex-presidente no Twitter, comentando

uma notícia de que o atual presidente teria ficado  revoltado

com a decisão.


A decisão cria um precedente favorável para Bolsonaro nas 

investigações sobre as joias recebidas durante seu mandato.

 Com seu aliado Augusto Nardes como relator do processo, 

há expectativa de que a mesma interpretação possa 

ser aplicada – revertendo a decisão anterior que proibia 

o ex-presidente de usar ou alienar essas joias.


Como escreveu nosso colunista João Filho em seu texto

publicado hoje: o encadeamento dos fatos deixa tudo 

bastante óbvio. "Um parlamentar bolsonarista entra com

 uma ação sem pé nem cabeça no TCU; ministros bolsonaristas

 matam no peito e passam a bola açucarada para os

advogados de Bolsonaro tentarem livrar a cara dele".


O apoio incondicional de ministros do TCU ao ex-presidente,

em especial Augusto Nardes e Jorge Oliveira, não é surpresa. 

Numa reportagem do ano passado, revelamos que Oliveira 

participou de reunião com Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal, 

que promovia alegações infundadas contra a segurança 

das urnas eletrônicas. 


A reunião foi parte de um esforço maior de figuras ligadas a 

Bolsonaro para questionar o sistema eleitoral brasileiro, 

estratégia central do ex-presidente. Indicado ao TCU por Bolsonaro, 

Oliveira já defendeu o voto impresso, afirmando que a proposta

"foi vencedora" na Câmara dos Deputados –mesmo sem ter obtido 

a maioria necessária.


Em sua atuação na Corte de Contas, Oliveira atrasou a aprovação

de um relatório que atestava a segurança das urnas eletrônicas 

ao pedir vistas do documento. Em seu voto, destacou supostas 

vulnerabilidades do sistema, replicando teorias já refutadas 

pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Texto copiado de publicação do Intercept-Brasil, de 10.08.2024