Imagem: Sérgio Lima/Folhapress
Sessões de torturas em centenas
de pessoas que aconteceram em São Paulo, no Destacamento de Operações de
Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), sob o comando do
coronel Ustra na ditadura militar, período em que foram contabilizadas 434
mortes e desaparecimentos no país,
segundo a Comissão Nacional da Verdade.
Em 2013, quando foi depor na
Comissão Nacional da Verdade, décadas após o fim da ditadura, Ustra mostrou sua
faceta dissimulada e mentirosa ao afirmar que não houve mortes dentro das
instalações que comandava.
“[O Doi-Codi] foi um organismo de
repressão política construído pela ditadura que misturava agentes da polícia
civil, da polícia militar e do Exército com uma certa informalidade e agilidade
necessária para que eles pudessem agir com a intensidade e brutalidade que
agiram. O principal instrumento utilizado foi a tortura das pessoas que eram
presas suspeitas, envolvidas com a luta
armada ou que tinham algum contato com elas. E são muitos os relatos que
envolvem o nome do comandante Ustra na condução dessas torturas”, explica José
Carlos Moreira da Silva, professor de Direito da PUC-RS.
Sob o comando de Ustra, o terror
da tortura não poupou nem crianças.
“Neste caso da família Teles, que
é um caso terrível porque os pais do Edson Teles e da Janaina Teles, na época o
Edson tinha 4 anos de idade e a Janaina 9, eles foram torturados brutalmente e
os filhos foram levados até as dependências do Doi-Codi e viram as pessoas
torturadas e seus pais machucados. Num primeiro momento não os reconheceram.
Eles ficaram ali durante um tempo sem a presença de nenhum parente e nenhuma
pessoa conhecida sendo utilizados como moeda de troca para que os pais, a
Amelinha Teles e o César Teles, pudessem falar o que eles [torturadores]
queriam ouvir”, disse o professor e membro da ABJD (Associação Brasileira de
Juristas pela Democracia).
O caso da tortura da família
Teles, em 2008, deu origem à primeira condenação que confirmou como torturador
o chefe do Doi-Codi e herói do Bolsonaro. O Brasil é signatário de acordos
internacionais que condenam a prática da tortura desde o final da Segunda
Guerra Mundial, com a assinatura da Convenção de Genebra. Por isso, as
atrocidades comandadas por Ustra e exaltadas por Bolsonaro também eram ilegais,
independentemente de quem eram ou o do que fizeram os torturados.
Membro da Comissão da Anistia por
mais de dez anos, julgando casos de perseguidos políticos e pessoas que foram
presas na ditadura militar, o jurista Prudente Mello tomou conhecimento de
centenas de processos que apontavam o coronel Ustra como um dos principais
agentes da tortura na ditadura militar.
"Era muito comum ouvir das
pessoas que passavam por lá [comissão da anistia], que foram torturados,
reportando sobre o coronel Brilhante Ustra e as práticas de tortura que ele foi
responsável. Os relatos ao longo dos processos de pessoas torturadas dão conta
disso. Realmente não tem como esconder ou tentar invisibilizar este personagem que
foi um personagem triste na história do Brasil. Nós temos que aprender com os
erros que foram praticados e cometidos até mesmo para que eles não voltem a se
repetir”, disse.
A atriz Bete Mendes foi uma das
vítimas do ídolo do Bolsonaro:
"Fui seqüestrada. presa e
torturada nas dependências do DOI-Codi do II Exército, onde o major Brilhante
Ustra (dr. Tibiriçá) comandava sessões de choque elétrico, pau-de-arara,
'afogamento', além do tradicional "amaciamento” na base dos 'simples'
tapas, alternado com tortura psicológica. Tive sorte, reconheço, senhor
ministro: depois de tudo, fui julgada e considerada inocente em todas as
instâncias da Justiça Militar, que, por isso, me absolveu; e aqueles inocentes,
como eu, cujos corpos eu vi, e que estão nas listas de desaparecidos?”
declarou.
Quando morreu, em outubro de
2015, o coronel Ustra morava em uma casa de alto padrão em uma área nobre de
Brasília.