“Chamo de teatro estático àquele cujo enredo dramático não constitui ação – isto é, onde as figuras não só não agem, porque nem se deslocam nem dialogam sobre deslocarem-se, mas sequer têm sentidos capazes de produzir uma ação; onde não há conflito nem perfeito enredo. Dir-se-á que isto não é teatro”. De fato, as premissas essenciais do poeta contrariam frontalmente a conceituação clássica do que vem a ser teatro, que pressupõe a evolução da ação dramática como decorrência dos conflitos entre os personagens.
Mas Pessoa acreditava piamente na validade de seu projeto, argumentando que “pode haver revelação de almas sem ação, e pode haver criação de situações de inércia, momentos de alma sem janelas ou portas para a realidade”. Ou seja, o poeta estava convencido de que os personagens poderiam revelar-se muito mais em função das palavras que trocassem do que das ações empreendidas. Estas poderiam ser abolidas, desde que o universo evocado transcendesse o espaço físico da representação.
Baseado neste contexto de Pessoa, fizemos a adaptação de seu texto, trazendo para uma realidade mais presente, sem deixar de preservar a história que Pessoa expôs em sua obra.
Assim, escrevemos o roteiro de “Cicatrizes” e buscamos um cenário condizente com o texto de Fernando Pessoa, o qual encontramos em Campanha, Minas Gerais.
Com uma produção totalmente sul mineira, atores e técnicos oriundos de Campanha, Cambuquira, Três Corações, Três Pontas e Varginha e beneficiados que fomos pela Lei de Incentivo à Cultura, buscamos agora patrocínio financeiro para concretizar o projeto que consiste na realização de um curta metragem de 15 minutos além de oficinas de cinema e palestras sobre a obra de Fernando Pessoa em vinte (20) escolas mineiras.