domingo, 12 de junho de 2011

Cesare Battisti



Pois eis que o STF resolveu soltar o tal Battisti. Eis que a Itália, Gilmar Mendes e Berlusconi contestam a decisão do STF. Mas afinal, o que foi que fez, esse Cesare Battisti?

Cesare Battisti é acusado de ter matado 4 pessoas. Foi condenado na Itália, local onde, em tese, teria cometido esses crimes. E o leitor que agora se pergunta porque raios eu coloco condicionais na frase deveria se perguntar algo um pouco maior: porque raios Cesare Battisti teria matado alguém?!

Voltemos um pouco no tempo {{é uma metáfora, não tenho máquina do tempo, ainda}} para saber o que diabos estava rolando na Itália nos tais anos 70:

O período que se convencionou na Itália chamar de “anos de chumbo”, nome inspirado no filme de Margarethe von Trotta, vai aproximadamente de 1968 até o início da década de 80. Naquela época, o Estado italiano estava fragilizado, não apenas pelas frágeis estruturas decorrentes de sua tardia formação, apenas no final do século 19, mas também pelos efeitos da derrota do país na 2ª. Guerra Mundial, quando formou parte das chamadas Potências do Eixo, bem como porque era um peão dos EUA na chamada guerra fria.

Sucessivos governos italianos alternavam-se no poder, às vezes em questão de apenas dias
(...)
No vazio de poder, instalou-se o caos. A política institucionalizada perdeu totalmente a credibilidade. Nesse clima, logo surgiram forças políticas de esquerda e de direita, que formaram organizações revolucionárias. Na esquerda estavam, dentre outras, as Brigate Rosse (BR), os Nuclei Armati Proletari (NAP) e os Proletari Armati per il Comunismo (PAC).


Havia, portanto, uma espécie de Guerra Civil {{a direita italiana se recusa a dizer guerra civil, motivo pelo qual incluí o 'espécie'}}. O que ocorre é que Battisti fez parte de um destes grupos. Provavelmente matou gente, embora não seja possível afirmar.



O sujeito da foto acima foi morto por militantes de esquerda, gente que fazia algo parecido com o que Battisti fazia. Numa luta armada. Aqui já havia a ditadura, lá, na Itália, como vimos, as lutas se sucediam em grupos de esquerda e direita.

O personagem da foto, morto por Battistis brasileiros, se chamava Boilesen. Seu maior feito? Depende para quem você pergunta. Um grande empresário, diria Berlusconi. Os de esquerda dirão que ele trouxe para o Brasil a pianola Boilesen:

Pianola de Boilesen, uma espécie de teclado que emitia choques elétricos em sessões de tortura. Assista o documentário "Cidadão Boilesen".

Boilesen, como pode se ver no documentário linkado, tinha enorme apresso por assistir torturas. Tem gente que toma Chopp escuro às sextas de noite e tem gente que prefere assistir a sessões de tortura. Há quem ache que ele deveria ser preso e há quem pense que Boilesen deveria ser morto.

Fato é que não se pode chamar de terroristas os responsáveis pela morte de Boilesen, ainda que não se concorde com o assassinato. Não dá para tirar do contexto e simplesmente acusar os responsáveis pela sua morte de crime comum.

É exatamente esta a situação de Battisti. Há quem discorde da luta armada, mas compara-la ao terrorismo é, no mínimo, falta de conhecimento histórico. Com exceção da folha de são paulo{que nunca teve escrúpulos nem tampouco preocupação histórica, vide o caso da ditabranda}, ninguém tem o direito de ignorar o fato de que o caso Battisti é de crime político e não de crime comum.

O Brasil fez bem de abrigar o cidadão. Falta só começarmos a destrancar os porões das nossas ditaduras, mas há tempo, o Brasil não vai esquecer das pianolas nem de tantos Herzogs.