terça-feira, 17 de junho de 2008

Entrevista com José Eduardo Cardozo

O PT NÃO SERVIRÁ DE ESCADA PARA AÉCIO EM 2010


O atual secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), foi um dos avalistas do veto da Executiva Nacional do PT à aliança com o PSDB para a disputa da Prefeitura de Belo Horizonte. Em sua opinião, o que estava em jogo não era uma mera aliança regional, mas uma “aproximação programática” entre os dois partidos em torno ao nome do governador Aécio Neves (PSDB-MG) para da disputa da Presidência da República, em 2010.

Sobre a perda do apoio do PMDB, em São Paulo, o deputado demonstra tranqüilidade. Para ele, há outras opções e a situação não deve refletir na disputa presidencial. José Eduardo admite que o PT pode lançar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para a sucessão de Lula, mas destaca ser ainda muito cedo para definir um nome.

O que motivou o veto da Executiva Nacional do PT à aliança com o PSDB para a Prefeitura de Belo Horizonte?
Consideramos para alianças naturais nas eleições de 2008 todos os partidos que estão na base de sustentação do governo Lula. Em relação aos partidos de oposição, qualquer coligação deve passar pela aprovação da Direção Nacional. O critério é sempre considerar o nosso projeto, não só de 2008, mas também de 2010. A eleição de 2008 acumula forças para 2010. Então, qualquer aliança com partidos que tenham projetos antagônicos ao governo Lula e que possam barrar ou prejudicar uma sucessão na linha que nós queremos, de continuidade do governo, deve ser analisada com cuidado. É óbvio que situações meramente regionalizadas de alianças com partidos adversários não terão tanto problema. Mas quando significa um prejuízo na construção do nosso caminho para 2010, não concordamos.

Este foi o caso de Belo Horizonte?
A situação que foi colocada deixou o campo regional e passou para o campo nacional. Não se tratava de um debate para Belo Horizonte, mas sim de uma aproximação programática entre PT e PSDB. Colocou-se a discussão de uma aliança com um potencial candidato do PSDB à Presidência da República. O que se iria discutir não era só a Prefeitura de Belo Horizonte, mas uma aproximação entre duas forças sob a bênção do governador de Minas. Somos favoráveis e desejamos uma aliança com o PSB em Belo Horizonte, mas com o PSDB, em face da dimensão nacional que a questão ganhou, não podemos concordar. Foi isso que motivou a decisão da Executiva Nacional.

Até há pouco se falava em uma possível migração do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, para o PMDB e para sua candidatura à Presidência em 2010, com o apoio do PT. Essa possibilidade fica excluída?
Em nenhum momento o PT abdicou do desejo de construir uma candidatura petista para 2010. Essa é nossa prioridade. Não nos furtaríamos de dialogar com outros partidos da base governista que tenham candidatos fortes. Mas somos o partido do governo, temos o presidente da República atual. É absolutamente legítimo tentar construir uma candidatura petista, que possa servir de referência para as forças aliadas. Na medida em que se admite uma tese como esta, significaria dizer que o PT, contando com uma coisa incerta, que é a migração de Aécio Neves para outro partido, abdica da possibilidade de construir uma candidatura própria. A visão que temos é que uma candidatura de Aécio Neves, hoje, reuniria em sua sustentação forças rigorosamente conservadoras, que se diferenciam muito do projeto que queremos construir para o Brasil. Seria um equívoco político grosseiro fortalecer uma candidatura que não tem identidade programática conosco, nem atende ao nosso projeto partidário.

Como o senhor vê a ameaça do atual prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT-MG), de recorrer à Justiça para fazer valer o acordo firmado entre o PT regional e o PSDB?
Ir à Justiça é direito de qualquer cidadão, mas senti muita estranheza diante desta declaração do Pimentel. Só posso atribuir ao calor do momento. Porque, nós do PT, sempre respeitamos muito as nossas instâncias partidárias. Não constumamos justicializar as nossas disputas internas. Sempre deixamos que as questões internas sejam resolvidas pelas nossas instâncias. Não creio que um militante petista como Fernando Pimentel, que tem sua história de luta, sua tradição, de repente pretenda ir por um caminho que contrariaria não só a tradição petista, como também a própria história dele.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o veto do PT à aliança com o PSDB em Belo Horizonte, qualificando-a como uma “intolerância” do partido.
Há muitos anos que o presidente Fernando Henrique Cardoso discorda das decisões do PT, qualquer que sejam elas. A referência dele, depois de seu governo, tem sido dizer “não” ao que o PT faz. Ele deve ter suas razões para isso; talvez seja a popularidade do presidente Lula. Acho que a política do “não” significa viver na sombra do que faz um partido. Hoje, o ex-presidente da República vive muito na sombra do governo Lula pelo “não”, quando deveria tentar mostrar seu brilho próprio.

As divergências no PT quanto a composição de alianças para as eleições municipais podem acarretar problemas maiores a longo prazo?
Não vejo problema nenhum, o PT sempre foi um partido plural. Não há nenhuma situação hoje que não tenhamos vivido no passado. Em algumas nós acertamos, em outras nós erramos, mas não há ineditismo nisso. O PT é uma fórmula partidária que deu certo. Aqui no Brasil não estamos acostumados com partidos que tenham vida democrática. Estamos acostumados com legendas em que alguns impõem sua visão, sem discussão. O PT tem vida democrática e isso gera divergências, mas também mecanismos de solução.

Interlocutores do presidente Lula afirmam que ele teme um afastamento “perigoso” entre PT e PMDB, partido que poderia ser o grande aliado do governo em 2010.
Eu não vejo assim. Acho que em vários lugares do Brasil estaremos aliados com o PMDB. É um partido que tem dado sustentação ao governo Lula. Se em uma situação específica não o tivermos como aliado, por uma decisão deles, não por vontade nossa, em outras estaremos juntos. Acho que o PMDB estará conosco na disputa do projeto de sucessão do presidente Lula.

Há setores do PT que ficaram preocupados com a aliança entre PMDB e DEM em São Paulo, contrariando o acordo oferecido pelo PT a Orestes Quécia (PMDB-SP).
Não foi o PT que deixou escapar a aliança, foi uma decisão do PMDB paulista. Seguramente, as direções do PT e do PMDB paulistas dialogaram. Existiram alguns desentendimentos, mas em um dado momento achamos, pelas informações que tínhamos do PT paulista, que o presidente do partido Orestes Quércia aceitaria uma aliança com o PT em torno da candidatura de Marta Suplicy (PT-SP). Mas isso não se consumou, foi uma decisão do PMDB que tivemos que respeitar. Ou seja: ninguém fez nenhum tropeço, nenhum equívoco que afastasse o PMDB. Foi uma decisão deles.

Qual é o plano B, agora que o PT não terá apoio do PMDB para a Prefeitura de São Paulo?
Não estamos passando por plano B, estamos ainda no plano A, que é conseguir o maior número de adesões para uma candidatura petista. O PMDB era uma das forças políticas que nós estávamos tentando trazer para nos dar sustentação, mas não a única. Vamos dialogar com o PDT, com o PCdoB, com o PSB, com o PR, com o PTB, ou seja, com todos os partidos da base de sustentação do governo Lula. Isso é o plano A. Se não deu certo com um partido é uma pena, mas nós temos outras possibilidades. A nossa candidatura é viável, Marta Suplicy tem expressão, fica em primeiro lugar nas pesquisas. Queremos colocar isso com nossos partidos aliados de forma franca, para que venham conosco neste projeto. Acredito que teremos, com a candidatura de Marta Suplicy, apoio de vários partidos da base de sustentação.

Na Câmara dos Deputados se fala em que o PT poderia romper o acordo de sucessão da Casa que fez com o PMDB.
Na política é rara uma situação em que nós não temos boatos. Este é mais um deles. Na medida em que foi feito um acordo entre PT e PMDB, ele deve e será honrado.

Membros do PT acusaram o deputado Michel Temer (PMDB-SP), provável sucessor de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na presidência da Câmara, de não ter feito o suficiente para evitar a aliança do DEM com o PMDB em São Paulo. Isso afeta as relações entre os dois partidos?
De forma alguma. O acordo que fizemos com o PMDB envolvia especificamente a eleição do presidente Arlindo Chinaglia, ficando depois o PMDB com a presidência da Câmara por dois anos e não passava por nenhuma situação eleitoral que pudesse se construir em 2008. O acordo tem que ser mantido. Também acho injusto acusar Michel Temer de não ter colaborado. A aliança do PMDB com os democratas veio da sessão paulista do PMDB.

Além da ministra Dilma, que outro nome o PT poderia apoiar em 2010?
É muito cedo para definirmos quem será o nosso candidato. Temos vários nomes.Aministra Dilma é um excelente nome. Mas o ministro Tarso Genro, o ministro Patrus Ananias, o governador Jaques Wagner (BA) e o ministro Fernando Haddad também. A prefeita Marta Suplicy poderia ser um nome, especialmente após uma eventual vitória em São Paulo. Um partido que tem um leque tão grande de opções, com uma popularidade tão grande do presidente da República pertencente às suas fileiras, tem total condição de construir uma candidatura própria.

Fonte: www.mensagemaopartido.com.br

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