domingo, 21 de junho de 2020

Bolsonaro e a fraude diplomática

Foto:Reprodução
O ministro da Educação ultradireitista Abraham Weintraub foi demitido – ou “se demitiu” – na quinta-feira, após ser flagrado, no agora célebre vídeo da reunião ministerial, gritando que os ministros do STF deveriam ser presos, e ter participado em seguida, e sem máscara, de uma manifestação explicitamente antidemocrática contra o STF. Mesmo em um governo cujos ministros se atropelam em problemas de corrupção e toda sorte de humilhações — o País está em seu terceiro ministro da Saúde em quatro meses, no meio de uma pandemia, e seu quinto secretário de Cultura (um deles foi demitido depois de repetir ipsis litteris partes de discursos de Josef Goebbels, ministro da propaganda nazista) — ainda assim Weintraub se sobressaiu como um retumbante fracasso e fonte abundante de constrangimento para o governo, tendo se tornado um herói para as facções mais estridentes do movimento bolsonarista graças a suas bravatas pedindo prisão para os juízes do STF e sua histeria anticomunista. Em sua cerimônia de exoneração, ciceroneada pelo ainda presidente Bolsonaro na quinta-feira, o ex-capitão sugeriu que apontaria Weintraub para um importante cargo no Banco Mundial, um dos poucos cargos de importância que não dependem da aprovação do Senado. Mas logo uma forte oposição começou a aparecer no interior do próprio banco, e uma longa e detalhada carta, assinada por vários especialistas brasileiros, foi enviada aos embaixadores dos sete países de cuja aprovação a nomeação depende, listando os escândalos e constrangimentos de Weintraub e “recomendando fortemente” que sua indicação não seja aceita, alertando ainda para os “danos irreparáveis que ele poderia causar à posição de seus países no Banco Mundial”. Embora Weintraub tenha alardeado que estava “saindo do Brasil o mais rápido possível” – o que seria em “poucos dias” – as notícias mostraram que, na verdade, ele fugiu para o aeroporto depois de postar seu tweet e parece ter voado para os EUA num vôo noturno. Como Weintraub conseguiu entrar nos Estados Unidos se uma Ordem Executiva, expedida pelo presidente Donald Trump em 24 de maio, barra a entrada de qualquer cidadão, brasileiro ou não, que tenha estado no Brasil nos 14 dias anteriores à chegada nos EUA? A resposta parece ser que o ainda presidente Bolsonaro conspirou com Weintraub para dar ao ex-ministro o status necessário para contornar a proibição de viagem: Weintraub parece ter viajado com um passaporte diplomático, embora seu “pedido de demissão” do governo brasileiro tenha sido anunciado na quinta-feira. Uma vez que Weintraub não ocupa qualquer cargo oficial no governo, e dado que sua indicação para o Banco Mundial é, no melhor dos casos, apenas um rumor não confirmado, ele não está qualificado para entrar nos Estados Unidos sob nenhuma das exceções do decreto de Trump, que isenta da proibição “funcionários de um governo estrangeiro ou seus familiares imediatos”. Mas atos ilegais partindo do ex-capitão ninguém estranha mais, é a opinião deste blog. Fonte: The Intercept Brasil