Imagem: Sérgio Lima/Poder360
Por não vislumbrarem possibilidade de diálogo com o presidente da instituição, Sérgio Camargo, pediram demissão coletivamente ontem os diretores da Fundação Cultural Palmares, órgão da Secretaria Especial de Cultura do governo federal. Pediram exoneração imediata os diretores Ebnézer Maurilio Nogueira da Silva, diretor do Departamento de Promoção da Cultura Afro-brasileira; Raimundo Nonato de Souza Chaves, coordenador-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra; e Roberto Carlos Concentino Braz, coordenador-geral de gestão interna.
“A decisão extremada acontece após inúmeras tentativas de interlocução com a presidência, acerca da gestão do órgão, que envolve os compromissos acordados no ato da posse”, diz a carta de demissão. “Tivemos nossas decisões indeferidas, ignoradas e muitas vezes presenciamos pessoas que não tinham prerrogativa de voto, por não comporem a diretoria, e mesmo assim participavam de reuniões e interferiam nas decisões, causando ingerência de forma generalizada”, acusam os diretores que saíram.
Para militantes dos movimentos de afirmação afro-brasileira, a atitude dos diretores é exemplar e constitui um ato de resistência face aos desmandos do presidente da instituição. “Esses diretores da Palmares fundaram um quilombo da cultura, um foco de resistência”, afirmou o historiador Rafael dos Santos, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e especialista em regulação de audiovisual.
Há pouco, Sergio Camargo disse, no Twitter, que substituirá os diretores demissionários nos próximos dias e repetiu algumas baboseiras que não explicam nada, como de hábito. “A Fundação Palmares pertence ao Brasil e é mantida com recurso dos pagadores de impostos. Seu compromisso é com a satisfação do público, não dos gestores”. A Fundação Cultural Palmares não se destina à satisfação de uma plateia, como ele parece pensar. É um órgão técnico de apoio a políticas afirmativas, instituição que define estratégias para a promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira, um dos países com a maior população preta do mundo. Os dirigentes do governo Bolsonaro, especialmente da área cultural, têm por regra não falar com a imprensa, que passam o tempo a demonizar – na verdade, também não costumam falar com ninguém da sociedade, comunicam-se entre eles mesmos.
Fonte: Carta Capital