domingo, 17 de março de 2013
A CULTURA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO
Artigo publicado na última edição do Jornal Encontro.
Cambuquira tem tudo para se transformar em pólo cultural das mais diversas formas de cultura existente. É por excelência uma cidade musical, precisa, porém buscar outros ritmos, outras expressões. É fundamental o estudo de música nas escolas, com o aprendizado de instrumentos de sopro e de cordas, além do canto coral e leitura de partituras.
A Mostra Cambuquirense de Audiovisual precisa ser incentivada pelo poder público no sentido de que oficinas permanentes de cinema formem novos cineastas, atores, técnicos, etc... Potencial existe, basta ver a edição passada da Mostra quando a sessão especial de filmes de cineastas cambuquirenses lotou o cinema, batendo recorde de público.
O mesmo pode se dizer do teatro, é preciso incentivar a formação de grupos teatrais, quer nas escolas, quer nos bairros, tirando os jovens da ociosidade que os levam a procurar formas estranhas para preencher o tempo ocioso que dispõem.
Sei da dificuldade em levantar recursos, fui Secretário de Cultura do município e esbarrei sempre na precariedade orçamentária, além do comodismo oficial em priorizar as manifestações culturais já existentes, talvez por receio em investir no novo, no diferente. Conceito este que destoa do PNUD/Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que preceitua que cultura não pode ser considerada como um conjunto cristalizado de valores e práticas, por recriar-se permanentemente à medida que as “pessoas questionam, adaptam e redefinem os seus valores e práticas em função da mudança das realidades e da troca de idéias”.
Espero que a nova titular da Secretaria de Cultura vença essas barreiras e possa realizar um trabalho cultural que sirva de inclusão social para jovens e adolescentes da cidade.
Entretanto, a cultura é quase sempre vista como propriedade dos grupos hegemônicos, que buscam a desqualificação dos setores dominados, classificando suas manifestações culturais como folclóricas, atribuindo-lhes assim, um cunho depreciativo.
Ainda segundo o PNUD é possível identificar-se duas formas de exclusão social: a do modo de vida, que nega o reconhecimento e aceitação de um estilo de vida de um grupo, ao insistir em que cada um viva como toda a sociedade e; a da participação, quando a discriminação das pessoas as coloca em desvantagem nas oportunidades sociais, políticas e econômicas em função de sua identidade cultural.
Felizmente, além do Espaço Cultural Sinhá Prado com a Mostra Mosca temos a Associação dos Amigos do Bairro Nova Estação e a Banda 12 de Maio que continuam a formar bons músicos, apesar do pouco incentivo do poder público, a Associação dos Amigos do Bairro da Lavra e a Associação Cambuquirense de Artes Plásticas que investem, como podem, nas artes plásticas, que são as exceções na regra dominante.
Deixo claro que não é uma crítica direta ao poder público cambuquirense, a cultura em segundo plano é uma questão nacional. Enquanto o Ministério da Cultura libera milhões de reais para cantores de sucesso realizarem turnês pelo País, o artista popular, o artista dos interiores deste Brasil mal consegue sobreviver.
As Prefeituras Municipais tem autonomia para incentivar mais e mais a cultura e não seria de má idéia se a nossa Prefeitura deixasse de seguir a tendência nacional e aumentasse substancialmente os recursos orçamentários de incentivo a cultura local.
Aqui temos grandes artesãos, músicos, atores, pintores, escritores, etc., que esperam que sejam reconhecidos pelo poder público como potenciais incentivadores para a inclusão de outros talentos, escondidos, na sociedade.