quinta-feira, 27 de novembro de 2008

VOU-ME EMBORA PRA PASSÁRGADA


Vou-me embora pra Pasárgada/Lá sou amigo do rei/Lá tenho a mulher que eu quero/Na cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada/Aqui eu não sou feliz/Lá a existência é uma aventura/ De tal modo inconseqüente/Que Joana a Louca de Espanha/Rainha e falsa demente/Vem a ser contraparente/Da nora que nunca tive
E como farei ginástica/Andarei de bicicleta/Montarei em burro brabo/Subirei no pau-de-sebo/Tomarei banhos de mar!/E quando estiver cansado/Deito na beira do rio/Mando chamar a mãe-d’água/Pra me contar as histórias/Que no tempo de eu menino/Rosa vinha me contar/Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo/É outra civilização/Tem um processo seguro/De impedir a concepção/Tem telefone automático/Tem alcalóide à vontade/Tem prostitutas bonitas/Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste/Mas triste de não ter jeito/Quando de noite me der/Vontade de me matar/- Lá sou amigo do rei -/Terei a mulher que eu quero/Na cama que escolherei/Vou-me embora pra Pasárgada.

(Manoel Bandeira)

Um comentário:

Unknown disse...

Que coincidência... Ontem à noite, enquanto dirigia voltando para casa, estava relembrando essa poesia. Que aliás, conheci através de você, há muitos anos atrás.
Mary Galdino