Em 12 de fevereiro é comemorado o Dia do Orgulho Ateu. A data em
questão, uma referência ao nascimento de Charles Darwin, não foi criada
para “converter” pessoas ao pensamento cético ou tampouco representa uma
afronta às religiões.
Pelo contrário, trata-se de uma grande oportunidade para refletirmos a
respeito dos preconceitos vivenciados por ateus e agnósticos em nossa
sociedade e também pensarmos sobre a necessidade de se consolidar um
Estado brasileiro que seja realmente laico, isto é, que garanta a
liberdade de culto, o direito à não-crença e, sobretudo, que possa
assegurar que convicções religiosas sejam restritas ao âmbito privado e
não interfiram nas políticas públicas.
Quando se fala em preconceito, as imagens de pobres, negros, mulheres e
homossexuais vêm logo à nossa mente. Certamente, são as discriminações
mais visíveis.
Por outro lado, a ateofobia (discriminação contra ateus) é uma questão
ainda pouco debatida. Em outros termos, isso significa que os
constrangimentos passados por ateus e agnósticos em seus cotidianos
passam desapercebidos pela maioria de nós.
Não é raro uma pessoa ser segregada nos ambientes familiar, de estudo ou
trabalho pelo simples fato de não possuir uma crença religiosa.
Hostilizar ateus e agnósticos por causa de suas concepções existenciais
ainda é uma prática bastante tolerada.
Não obstante, o que torna essa questão ainda mais controversa é o
fato de muitos religiosos acreditarem que, ao se voltarem contra ateus e
agnósticos, estariam supostamente agindo de acordo com os preceitos de
sua crença.
Evidentemente, religião não define a conduta de um indivíduo. Ateus como
Saramago, Marx, Nietzsche, Chaplin, Carl Sagan, Sartre, Oscar Niemeyer e
Herbert de Souza foram excelentes profissionais em suas respectivas
áreas.
Em contrapartida, Hitler, Mussolini e Jim Jones, cristãos fervorosos,
foram responsáveis pelas mortes de milhões de seres humanos. Ao
contrário do propagado pelo senso comum, nem ateus são inerentemente
“maus”, nem religiosos são automaticamente “bons”.
Já a reinvindicação de um Estado verdadeiramente laico é uma causa que
extrapola os limites dos debates entre crentes e ateus, pois representa
uma questão que atinge praticamente todos os âmbitos da sociedade.
Em um país como o Brasil, marcado por inúmeros retrocessos nos anos
últimos, a mistura entre assuntos religiosos e políticos têm sido
responsável por impedir debates sérios sobre questões de extrema
importância como aborto, direitos da comunidade LGBT e a necessidade de
trabalhar temáticas como “identidade de gênero” e “orientação sexual”
nos currículos escolares.
Exercitar a alteridade, ou seja, saber se colocar no lugar do outro, é
uma prática fundamental para lidar com a grande diversidade presente em
nossa sociedade. Assim como não é preciso ser mulher para apoiar o
feminismo, ser negro para combater o racismo, ou ser homossexual para
ser favorável às causas de gays e lésbicas, religiosos também podem
defender o direito de ateus e agnósticos de se manifestar em público sem
correr o risco de sofrer preconceito, assegurando assim que a opção de
ter ou não uma crença religiosa seja devidamente respeitada.
Enfim, com todo o risco de cometer um truísmo, sempre é bom recorrer à
famosa citação (erroneamente atribuída a Voltaire): “Não concordo com
uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu
direito de dizê-la”.
OBS: O autor deste blog é ateu.