segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O pior governo

(Pela primeira vez na história brasileira pós-ditadura militar, um governo vai entregar, ao seu sucessor, um país muito pior do que aquele que recebeu.) (por Antonio Risério *) /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Deixando Collor de parte, já que ele não concluiu o mandato, podemos fazer a seguinte observação. A eleição de Tancredo marcou o início do processo de construção de um novo Brasil. De lá para cá, os governos que se sucederam entregaram, ao governo seguinte, um país melhor do que o que tinham recebido. O grau de contribuição de cada um, na produção de avanços na vida nacional, é variável. Mas sempre, na passagem do bastão, restou algum saldo positivo. A triste e solitária exceção, nessa paisagem, é o governo de Dilma Rousseff, quase sempre sinônimo de fracasso ou retrocesso.//// Vejamos. Quando Sarney passou a bola, o Brasil tinha avançado no caminho da democracia. O Mercosul, em parceria com a Argentina de Alfonsín, tinha começado a se configurar. E, na dimensão legislativa, ocorreu um grande avanço histórico, no terreno dos direitos sociais, com a Constituição de 1988. Com a queda de Collor, Itamar, algo desacreditado, assumiu em meio à crise. Mas seu governo significou mais um passo firme no rumo da consolidação democrática. E, sobretudo, deu início ao processo de estabilização econômica.//// Fernando Henrique nos conduziu à conquista plena da estabilidade econômica, fazendo o que parecia impossível: nocautear a inflação. O Plano Real se afirmou vitoriosamente. Além disso, FHC fez a agenda social avançar. Houve redução da pobreza, em consequência do próprio fim da inflação. Já perto do final de seu segundo mandato, a desigualdade de renda começou a cair, graças principalmente ao programa Bolsa Escola (que o PT tratava pejorativamente de “bolsa esmola”, embora fosse recriá-lo no Bolsa Família). E o Brasil assumiu novo protagonismo no sistema das relações internacionais./// Em seguida, veio Lula – e os avanços prosseguiram firmes. Lula alargou em extensão inédita as políticas sociais, ampliando como nunca o raio da inclusão e a dimensão do mercado interno, retirando milhões de brasileiros da pobreza, promovendo ascensão social. De Fernando Henrique, ele não só manteve o tripé macroeconômico, agora sob a regência do ministro Palocci, como aumentou o peso e estendeu o alcance das ações internacionais do país./// E Dilma? Bem, ela quebra toda essa cadeia de avanços, conquistas e realizações significativas. Seu governo meteu os pés pelas mãos na economia. Estamos hoje numa situação crítica, combinando a volta da inflação com um crescimento minúsculo, a caminho da recessão. A agenda ambiental só conheceu retrocessos, a política externa é atrasada e confusa, a Petrobrás entrou em parafuso, a reforma urbana foi abandonada, o salário mínimo murcha e assistimos à degradação total dos serviços públicos./// Assim, pela primeira vez na história brasileira pós-ditadura militar, um governo vai entregar, ao seu sucessor, um país muito pior do que aquele que recebeu. Pela primeira vez, nesse período histórico, será correto falar, com absoluta propriedade e absoluta justeza, de “herança maldita”. É o retrato acabado do pior governo que tivemos depois da reconquista da democracia./// * Antonio Risério é antropólogo e colunista do jornal A Tarde./////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ESTE BLOG ESTÁ PUBLICANDO A MATÉRIA ACIMA QUE DEVERIA ESTAR NO JORNAL "A TARDE" DA BAHIA MAS FOI CENSURADO. Publicamos a seguir o texto do autor explicando a censura: Censura na Bahia! É proibido criticar o PT no jornal A Tarde. *por Antonio Risério. "O jornal baiano A Tarde resolveu nos levar de volta aos dias grotescos da CENSURA. Com uma diferença: se a censura, na época da ditadura militar, tinha caráter político-ideológico (por mais estúpido e cretino que fosse), a onda de censura agora promovida por A Tarde diz respeito unicamente a interesses financeiros da empresa. Primeiro, censuraram a escritora Aninha Franco, que não aceitou a imposição e mandou o jornal à merda. Agora, me censuram. Pelo mesmo motivo – criticar governos do PT – e com a mesma consequência, já que também não aceito a censura e deixo, portanto, de escrever nas páginas da sentinela do conservadorismo baiano, hoje uma empresa em luta desesperada para sair da enrascada financeira em que se meteu. (...) Enviei o artigo “O Pior Governo”, que deveria ser publicado na minha coluna de hoje, sábado, 16 de agosto de 2014. Jary me telefonou, depois de ler o texto, me dizendo que achava que eu não tinha entendido bem as “instruções” da censora-chefe Mariana Carneiro. Respondi que tinha entendido muito bem as tais “instruções”, mas que não iria obedecer. Falar de eleições, governos e partidos, em período eleitoral, é atitude lógica e direito genuíno do cidadão. “Se o jornal quiser publicar o artigo tal como está, tudo bem. Se não, assuma a censura” – disse, encerrando o assunto. O artigo, é claro, não foi publicado. O PT persiste em seu desempenho prático de controle partidário da mídia, inclusive acionando computadores palacianos para alterar perfis de jornalistas na wikipedia. No plano local, baiano, o jornal A Tarde, como se não fosse feito por jornalistas, baixa o cangote e abana o rabo. Não dá. Tô fora disso. Envio aos amigos e amigas o texto censurado, pedindo que o divulguem e a esta nota."