segunda-feira, 30 de junho de 2014

terça-feira, 24 de junho de 2014

“Onde está a aluna marxista?” — a briga entre um professor e uma estudante na UERJ

Maria Clara Bubna, 20 anos, é estudante do 1° período de Direito na UERJ e integra o Coletivo de Mulheres da sua Universidade. Ela era – até ele pedir exoneração – aluna do Professor Bernardo Santoro, autor de uma postagem de conteúdo debochado e pra lá de machista feita, publicamente, em seu facebook, e repudiado, recentemente, e com toda a razão, pelo Coletivos de Mulheres da UFRJ, outra Universidade na qual Bernardo leciona. Depois disso, Bubna diz que passou a ser perseguida pelo professor. Ele afirma o contrário, mesmo estando hierarquicamente, acima da aluna, em sua relação dento da Universidade, e atribui a autoria do repúdio à Bubna e seu Coletivo, embora a Nota de Repúdio tenha sido publicada por outro Coletivo Feminista, de outra Universidade, a UFRJ. A estudante ficou um tanto surpresa e assustada com o rumo que o assunto tomou e a repercussão que teve, mas resolveu quebrar seu silêncio e contar sua versão da história em seu depoimento intitulado “Sobre o Silêncio ou Manifesto pela Voz”, que reproduzo, na íntegra, logo abaixo. “Parabéns” sqn, Professor Bernardo Santoro! O Senhor conseguiu ficar famoso como o machistinha mais comentado das redes sociais dos últimos dias! Melhor repensares o conteúdo das piadas que levas à público, uma vez que és pessoa pública e formador de opinião. Recomendo mais cautela. E parabéns, de verdade, a ti, Maria Clara Bubna, que optou por não ficar calada, apesar de, como tu mesma disseste no teu manifesto, seres “o elo mais fraco desta relação”, por seres aluna, por seres mulher, por seres ainda muito jovem. Segue o Manifesto de Maria Clara Bubna: SOBRE O SILÊNCIO OU MANIFESTO PELA VOZ Por muitos dias, eu optei por permanecer calada. Talvez numa tentativa de parecer madura (como se o silêncio fosse reflexo de maturidade) ou evitando que mais feridas fossem abertas, eu escolhi, nesse último mês, por vivenciar o inferno em que fui colocada com declarações breves e abstratas e conversas pessoais cautelosas. Mas se tem uma coisa que eu descobri nesse mês é que a maior dor que poderiam me causar era o meu silenciamento, o meu apagamento por ser mulher, jovem, “elo fraco” de toda relação de poder. Eu decidi portanto recuperar minha voz. Esse texto é um apelo a não só o meu direito de resposta, mas o meu direito a existir e me manter de pé enquanto mulher. Eu nunca vi necessidade de esconder meus posicionamentos. Seja sobre o meu feminismo ou minhas preferências políticas, sempre fui muito firme e verdadeira com o que acredito. Mantive sempre a consciência de que minha voz era importante e que, junto com muitas outras vozes, seriamos fortes. Exatamente por isso, nunca vi necessidade de me esconder. Decidi fazer Direito baseada nessa minha ideia de que a união de vozes e forças poderia mudar a quantidade brutal de situações hediondas que o sistema apresenta. Dentro da Faculdade de Direito da UERJ, acabei encontrando um professor que possui postura claramente liberal. Ele também nunca fez questão de esconder suas preferências políticas, mesmo no exercício de sua função. Apesar de ser meu primeiro ano na faculdade, passei alguns muitos anos no colégio durante os ensinos fundamental e médio e tive professores militares, conservadores, cristãos ferrenhos. Embates aconteciam, mas nunca ninguém se sentiu ofendido ou depreciado pelas suas preferências ideológicas. O debate, quando feito de maneira saudável, pode sim ser enriquecedor. Para minha surpresa, isso não aconteceu no ambiente universitário. Ouvindo Bernardo Santoro se referir aos médicos cubanos como “escravos cubanos”, a Marx como “velho barbudo do mal”; explicar o conceito de demanda dizendo que ele era um “exímio ordenhador pois produzia muito leitinho” (sic) e que o “nazismo era um movimento de esquerda”, decidi por me afastar das aulas e tentar acompanhar o conteúdo por livros, gravações, grupos de estudo… Já ciente do meu posicionamento político e percebendo minha ausência, o professor chegou a indagar algumas vezes, durante suas aulas: “onde está a aluna marxista?” No dia 15 de maio deste ano, Bernardo postou em sua página do Facebook, de maneira pública, um post sobre o feminismo. Usando o argumento de que se tratava de uma “brincadeira”, o docente escarneceu da luta feminista e das mulheres de maneira grosseira e agressiva. A publicação alcançou muitas visualizações, inclusive de grupos e coletivos feministas que a consideraram particularmente grave, em se tratando de um professor, como foi o caso do Coletivo de Mulheres da UFRJ, universidade em que Bernardo também leciona. A partir do episódio, o Coletivo de Mulheres da UFRJ escreveu uma nota de repúdio à publicação do professor, publicada no dia 27 de maio na página do próprio Coletivo, chegando rapidamente ao seu conhecimento. Foi o estopim. Fazendo suposições, o professor começou a me acusar pela redação da nota de repúdio e a justificou como fruto de sua “relação conflituosa” comigo, se mostrando incapaz de perceber quão problemático é escarnecer, de maneira pública, de um movimento de luta como o feminismo. Fui então ameaçada de processo. Primeiro com indiretas por comentários, onde meu nome não era citado. Alguns dias se passaram com uma tensão se formando, tanto no meio virtual quanto nos corredores da minha faculdade. Já se tornava difícil andar sem ser questionada sobre o assunto. Veio então, dias depois, uma mensagem privada do próprio Bernardo. A mensagem me surpreendeu por não só contar com o aviso sobre o “processo criminal por difamação” que o professor abriria contra mim, mas por um pedido do mesmo para que nos encontrássemos na secretaria da faculdade para que eu me desligasse da minha turma, pois o professor não tinha interesse em continuar dando aula para alguém que processaria. Nesse ponto, meu emocional já não era dos melhores. Já não conseguia me concentrar nas aulas, chorava com uma certa frequência quando pensava em ir pra faculdade e essa mensagem do professor serviu para me desestabilizar mais ainda. Procurei o Centro Acadêmico da minha faculdade com muitas dúvidas sobre como agir. Foi decidido então levar o assunto até o Conselho Departamental que aconteceria dali alguns dias. No Conselho, mesmo com os repetidos informes de que não se tratava de um tribunal de exceção, Bernardo agiu como se fosse um julgamento. Preparou uma verdadeira defesa que foi lida de maneira teatral por mais de quarenta minutos. Conversas e posts privados meus foram expostos numa tentativa de deslegitimar minha postura. Publicações minhas sobre a militância feminista e textos sobre minhas preferências políticas foram lidos pelo professor, manipulando o conteúdo e me expondo de maneira covarde e cruel. Dizendo-se perseguido por mim, uma aluna do primeiro período, Bernardo esqueceu-se que dentro do vínculo aluno/professor há uma clara relação de poder onde o aluno é obviamente o elo mais fraco. Eu, enquanto aluna, mulher, jovem, não possuo instrumentos para perseguir um professor. O Conselho, por fim, decidiu pela abertura de uma sindicância para apurar a postura antipedagógica de Bernardo. Não aceitando a abertura da sindicância, o professor, durante o próprio Conselho, comunicou que iria se exonerar e deixou a sala. Foi repetido incansavelmente que a questão para a abertura da sindicância não era ideológica, mas sim sobre a postura dele como docente. Bernardo, ao que parece, não entendeu. No dia seguinte, saiu uma reportagem no jornal O Globo sobre a questão. O professor declara que eu sempre fui uma “influência negativa para a turma”. Alguns dias depois, a cereja do bolo: seu amigo pessoal, Rodrigo Constantino, publicou, em seu blog na Revista Veja, uma reportagem onde eu era completamente difamada e exposta sem nenhum aviso prévio sobre a citação do meu nome. A reportagem por si só já era deprimente, mas o que ela gerou foi ainda mais violento. Comecei a receber mensagens ameaçadoras que passavam desde xingamentos como “vadia caluniadora” até ameaças de “estupro corretivo”. Meu e-mail pessoal foi hackeado e meu perfil do facebook suspenso. A situação atual parece estável, mas só parece. Ontem, no meu novo perfil do facebook, recebi mais uma mensagem de um homem desconhecido dizendo que eu deveria ser estuprada. Não, eu não deveria. Nem eu nem nenhuma outra mulher do planeta deveria ser estuprada, seja lá qual for o contexto. Nada nesse mundo justifica um estupro ou serve de motivação para tal. Decidi quebrar o silêncio, romper com essa postura conformista e empoderar minha voz. É preciso que as pessoas tenham noção da tensão social que vivemos onde as relações de opressão estão cada vez mais escancaradas e violentas. Em todo esse desenrolar, eu me vi em muitos momentos me odiando. Me odiando por ser mulher, me odiando por um dia ter dado valor à minha voz. Me vi procurando esconderijos, me arrependendo de ter entrado na faculdade de Direito, de ter acreditado na minha força. Me detestei, senti asco de mim. Mas eu não sou assim. Eu sou mulher. Já nasci sentindo sobre mim o peso da opressão, do machismo, do medo frequente de ser violada e violentada. Eu sou forte, está na minha essência ter força. E é com essa força que eu escrevo esse texto. Estejamos fortes e unidos. A situação não tende a ficar mais mansa ou fácil. Nós precisamos estar juntos. É essa união que vai criar rede de amor e uma barreira contra essas investidas violentas dos fascistas que nos cercam. Foi essa rede de amor e apoio que me manteve sã durante esse mês e é essa rede que vai nos manter vivos quando o sistema ruir. Porque esse sistema está, definitivamente, fadado ao fracasso. Abrace e empodere sua voz. Maria Clara Bubna Rio de Janeiro, junho de 2014. Texto publicado no Diário do Centro do Mundo.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Festival de Brasília abre inscrições para sua 47ª edição

O 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que acontecerá de 16 a 23 de setembro, abriu as inscrições de filmes até o dia 10 de julho (às 23h59). Poderão se inscrever filmes concluídos a partir de 1º de agosto de 2013 e que não tenham participado de processos seletivos nas edições anteriores do festival. Os títulos devem ser obrigatoriamente inéditos em Brasília e preferencialmente inéditos no Brasil e não ter obtido prêmio de melhor filme de júri oficial em festival realizado no Brasil. Os longas (com duração igual ou maior a 70 minutos) e curtas-metragens (duração igual ou maior a 25 minutos) serão exibidos em formato 35 mm e digital, no Cine Brasília, e digital nas cidades do Distrito Federal. Até quatro comissões serão responsáveis pela seleção e farão a divulgação do resultado até o dia 30 de julho. Para mais informações sobre o edital e a ficha de inscrição, acesse o site www.festbrasilia.com.br

Festival Kinoarte abre inscrições

O Festival Kinoarte de Cinema - 16ª Edição Londrina, que acontecerá de 18 a 28 de setembro, está com inscrições abertas para curtas-metragens finalizados a partir de janeiro do ano passado. A edição 2014 do festival traz como novidade uma quarta sessão de curtas fazendo companhia às tradicionais mostras Nacional, Estadual e Local. Neste ano, o festival abrigará também a Competitiva Ibero-Americana de Curtas-Metragens, com filmes procedentes da Espanha, Portugal e de toda a América Latina. As inscrições são gratuitas e podem ser efetuadas através da plataforma virtual Movibeta ou do envio de DVD e ficha de inscrição pelos correios. Serão aceitos filmes enviados até o dia 30 de julho. O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis no site do festival.

TJMG obriga Codemig a revitalizar parque em Contendas.

Foto: EPTV
O Parque das Águas do distrito de Águas de Contendas, em Conceição do Rio Verde (MG), que está abandonado, será revitalizado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). A decisão foi tomada após uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que atendeu ao pedido feito pelo Ministério Público. O projeto deve ser executado em até quatro meses. De acordo com o TJMG, o recurso da Codemig foi negado e a estatal deve reformar o local. Caso o prazo de 120 dias não seja cumprido, ela sofrerá multa diária de R$ 10 mil. “O que vimos no Parque das Águas é um completo desrespeito e descumprimento da lei, por isso o pedido, que terá de ser feito”, disse o promotor Bergson Cardoso Guimarães. Fonte: G1MG

segunda-feira, 16 de junho de 2014

PSOL e PSTU oficializam aliança na disputa em MG

Fidélis Alcântara é o candidato do PSOL ao governo do Estado
Os partidos PSOL e PSTU confirmaram ontem a aliança em convenção realizada em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Fidélis Alcântara (PSOL) encabeça a chapa ao governo de Minas e a professora Vitória Melo (PSTU) será candidata a vice. Também ficou definido o nome do metalúrgico Geraldo Araújo (PSTU) como pré-candidato ao Senado. “Já temos três eixos norteadores do nosso programa de governo e convidamos a sociedade para colaborar para que seja construído coletivamente”, destacou Fidélis. As diretrizes são: economia com ênfase na agricultura familiar, participação efetiva da população na tomada de decisões pelo governo e garantia dos direitos básicos como saúde e educação. Também foram confirmados os nomes de Vanessa Portugal (PSTU) e Maria da Consolação (PSOL) para deputadas estadual e federal, respectivamente. O registro oficial dos pré-candidatos será feito no Tribunal Regional Eleitoral no dia 28. Fonte: O Tempo.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Festival de Cinema Latino-americano de Flandres recebe inscrições para 6ª edição

Estão abertas as inscrições para a 6ª edição do Festival de Cinema Latino-americano de Flandres, que acontece entre os dias 7 e 16 de novembro, na Bélgica. O festival busca apresentar a realidade latino-americana e criar um diálogo entre os realizadores latino-americanos e o público europeu, por meio da exibição em mostras competitivas de filmes que evidenciem a realidade cotidiana da América Latina. Produções brasileiras podem ser inscritas até o dia 1º de julho. O festival aceita obras audiovisuais de ficção, animação e documentário (exceto documentários institucionais), com qualquer duração, finalizadas após fevereiro de 2012 e legendadas em inglês. A inscrição é gratuita para filmes enviados por via postal, e há cobrança de taxa caso seja realizada pelas plataformas online Festhome e Movibeta. Para saber mais, clique aqui para acessar o regulamento e a ficha de inscrição.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Cambuquira: Primeira Comunidade Azul da América Latina

Cambuquira conhecida mundialmente por suas águas minerais de gás natural, recebeu, no dia 07 de junho, o título de 1ª Comunidade Azul da America Latina. O evento “1º Fórum Nossa Água – Água: Direito Humano e Bem Público” contou com palestras e debates, além da presença da ativista canadense Maude Barlow, presidente do Conselho dos Canadenses e cofundadora do Projeto Planeta Azul. O site Carbono Brasil publicou interessante texto sobre as ideias de Maude Barlow: "

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Jogadores pedem novo gramado para o campo.

Matéria publicada no " O Encontro - O Jornal de Cambuquira".

sábado, 7 de junho de 2014

Festival Internacional de Cinema de Caracas recebe inscrições de produções latino-americanas

Estão abertas as inscrições para a primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Caracas, que acontece entre os dias 12 e 21 de setembro na capital venezuelana. O evento tem o seu foco nas produções latino-americanas e caribenhas, com o objetivo de ilustrar o desenvolvimento da cinematografia dos países que compõem a comunidade latino-americana e caribenha, enfatizando o importante papel que essas obras ocupam no cinema mundial. Produções brasileiras podem ser inscritas para as mostras competitivas até o dia 20 de junho. Para mais informações sobre o 1º CINE.CSS - Festival Internacional de Cinema de Caracas, acesse o site oficial do evento.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

domingo, 1 de junho de 2014

COMUNISTAS ENTRAM DE GRAÇA

O filme AVANTI POPOLO, dirigido por Michael Wahrmann, entra em cartaz no território brasileiro no dia 12 de junho de 2014. A promoção abaixo tem o intuito de garantir a entrada gratuita de comunistas (todas as vertentes) nas salas de cinema comerciais que estiverem exibindo o filme a partir de ingressos promocionais. 1. Quem pode participar: 1.1 Filiados a partidos comunistas/socialistas (todas as vertentes), sindicatos (de empregados), membros de organizações de esquerda apartidárias ou pessoas que se considerem comunistas (todas as vertentes). 2. Como participar: 2.1 Enviar para o e-mail comunistas@avantipopolofilme.com um comprovante digital (reproduzido a partir de scanner, câmera fotográfica, etc) de sua participação em qualquer tipo de organização acima citada (item 1.1), juntamente com uma cópia digital do CPF do interessado (reproduzido a partir de scanner, câmera fotográfica, etc). 2.2 No corpo do e-mail os interessados devem indicar o endereço físico (Nome, Rua, CEP, Cidade), ao qual os ingressos devem ser enviados. 2.3 O interessado receberá um e-mail da produção confirmando seu prêmio e deve aguardar a chegada dos ingressos. 2.4 Serão aceitos comprovantes de filiação fora de prazo da validade. (Comunistas das antigas, também rola). 3. Do prêmio 3.1 Cada participante terá direito a um par de ingressos. Sendo contabilizado um par de ingressos por CPF. 3.2 Os ingressos são válidos de segunda a quarta-feira nos cinemas comerciais que estiverem exibindo o filme. Sujeito a lotação da sala. Confira a programação no facebook do filme: https://www.facebook.com/avantipopolofilm ou nas publicações na imprensa. 3.3 O ingresso só é válido em território nacional. 3.4 O ingresso não é válido para sessões gratuitas ou que acontecerem em mostras e festivais. 3.5 Os ingressos serão enviados ao endereço indicado pelo participante no e-mail. Só serão aceitos endereços dentro do território nacional. 3.6 Os ingressos são válidos apenas para sessões do filme AVANTI POPOLO, de Michael Wahrmann. 4. Condições 4.1 Os pedidos de ingresso devem chegar entre 26 de maio e 09 de junho de 2014 à meia-noite. 4.2 Os ingressos serão enviados por correio até o dia 10 de junho, devendo chegar até o dia de lançamento (12 de junho). A entrega dos mesmos depende dos prazos e logística dos correios. 4.3 Caso os ingressos não sejam entregues pelos correios, a produção não se responsabiliza pela falha e caso for necessário e a pedido do interessado, poderá reenviar os ingressos. (sujeito a disponibilidade dos mesmos) 4.4 Em caso de duvidas, entrar em contato pelo e-mail: comunistas@avantipopolofilme.com

Deus não existe!…

Se Deus existe, Ele passou muito tempo na moita. Até que pudesse ser percebido por alguém. Acompanhe o raciocínio: O universo, como existência física, é estimado em 14,5 bilhões de anos pelo calendário terreno, quando surgiu de um ovo pré-universal, numa explosão espetacular, cujos estilhaços, gases e poeiras deles decorrentes, formam os monumentais corpos celestes. Em um desses estilhaços, dos bem pequenos, é verdade, o Homo sapiens, a nossa espécie primordial, surgiu há cerca de 145 mil anos, ou seja: a nossa existência no universo ocupa o percentual infinitamente miúdo de 0,001% da existência do mundo. Astronomicamente falando é um tempo tão ínfimo quanto aquele gasto no piscar de uma lagartixa no contexto de um ano. Em algum momento de nossa curtíssima trajetória, desenvolvemos alguns atributos que nos foram diferenciando da bicharada, tais como consciência, o raciocínio lógico, o desenvolvimento de ferramentas, a interferência conduzida no meio ambiente, a cultura e a intuição da existência do sobrenatural. Só então Deus começou a dar as caras. Ou seja, a existência de Deus como ideia e conceito começa de fato com a evolução racional do ser humano, dentro de um processo da evolução natural das espécies. Daí não ser um disparate afirmar que a natureza criou o homem e o homem criou Deus. A existência de Deus, se fosse pão, ainda estava quentinho de derreter a manteiga. Nenhuma das linhagens que nos antecederam, como as bactérias, as formigas, as baratas, os crocodilos, os dinossauros, supõe-se, não chegaram a aventar, ou mesmo intuir a existência de Deus. Pela simples razão de que eram ou são seres irracionais. A existência de Deus teve início com a nossa espécie. A existência de Deus, a rigor, é um efeito colateral da racionalidade. Ela acontece onde o nosso limitado raciocínio esgota suas forças e não consegue romper. Aí entra a ordem sobrenatural, tendo como centro o Deus absoluto, princípio, meio e fim, aquele que é ubíquo e tudo sabe, que tem visão de raio X para saber o que existe por trás das pedras, por trás de nosso discurso falho e não raro dissimulado. Costumamos afirmar que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, o que nos parece não só uma forma arrogante de nos colocar em posição superior diante das demais criaturas e assim subjugá-las, mas também um evidente equívoco, prontamente observável. Admitindo que Deus esteve por trás do big-bang que supostamente deu origem ao mundo, com sua alquimia explosiva, Ele esperou com paciência por mais de 14 bilhões de anos para inserir o homem em sua arena. Se fôssemos tão importantes como supomos ser, talvez Deus tivesse nos preparado mesmo antes da construção do cenário e nos conservado no formol divino e nos inserido em cena desde o primeiro ato. Já o Homo sapiens, ao contrário de Deus, é um bicho extremamente ansioso. Queremos alcançar resultados, atingir objetivos desde as primeiras ações. Diante desta situação, de duas uma: ou Deus é semelhante a nós, mas não somos importantes para Ele, apesar da semelhança. (A semelhança, no caso, ao invés de produzir simpatia, pode ter produzido rejeição, pois, pelo dom da ubiquidade, Deus sabia desde sempre quem seríamos nós e do que seríamos capazes.) Ou então Deus não é semelhante a nós e, como espécie, somos apenas mais uma no desenrolar do longo novelo evolutivo, e que irá desaparecer até mais rapidamente do que as outras, como as baratas, as formigas e as bactérias, em razão de nossa racionalidade convertida em estupidez. É uma noção quase unânime, independente da seita que se filie, ou da versão de Deus que se adote, que Ele é um ser permeável e receptivo aos nossos rapapés, que costumamos chamar de orações. E isso talvez nos fizesse especiais diante de Deus, pois somos a única espécie capaz de desenvolver rituais bajulatórios. Ora, há evidências de que Deus, se existe, não se impressiona com nossos comovidos petitórios. Ou pelo menos a comoção de Deus não se manifesta de forma semelhante à comoção humana. Vez que somos tendentes a poupar de nossa ira as pessoas que nos beijam as mãos. Ao longo da história, não foi uma nem duas vezes que templos abarrotados desabaram sobre os fiéis em oração. Exemplo clássico foi o Dia de Todos os Santos de 1755, em Lisboa. Estando as igrejas da Capital repletas de fiéis, veio um terremoto. Quem sobreviveu ao terremoto foi engolido pelas chamas provocadas pelos escombros sobre as velas acesas. Quem ainda conseguiu sobreviver, em seguida foi engolido por um tsunami. Milhares e milhares de pessoas morreram rezando. A família real sobreviveu porque estava praticando um ato que contrariava a suposta vontade de Deus. Naquele domingo santo, dia de fervorosas adorações, a família real se ocupava de afazeres hedonistas: fazendo churrasco, tomando vinho enquanto veraneava em Queluz. Outro exemplo bem recente foi o tremor de terras do Haiti. Um dos países mais pobre do mundo, um povo extremamente sofrido e digno da piedade humana e divina e outras mais, se mais houver. Foi violentamente sacudido, não poupando nada nem ninguém. Levou de eito aficionados do vodu, do budismo, do islã, do cristianismo e quem mais estivesse por lá. Levou inclusive a Dra. Zilda Arns, a nossa santa viva e operante, que salvou milhões de crianças da mortalidade infantil, no Brasil e em outras partes do mundo. Inclusive estava lá em missão de salvação dos pequeninos, quando a igreja desabou sobre ela. Em qualquer tempo e lugar, as pessoas que apostaram na hipótese de um Deus expresso e socorrista, a não ser que tenham se vendando pelas lonas do autoengano, acabaram desiludidas. O próprio Jesus Cristo, que se achava em condição mais do que especial diante das atenções de Deus, na hora em que ele mais esperava, desabafou: — Oh, Pai, por que me abandonaste!? Deus não é um ser de misericórdia e amor. Pelo menos seu amor e sua misericórdia não têm as feições que gostaríamos que tivessem. Nem tem o apego por nós que gostaríamos que tivesse. Talvez do que Deus goste mesmo sejam suas esferas rodopiantes, suas galáxias em espirais, suas estrelas incendiadas, seus buracos negros que povoam o universo numa profusão quase infinita. Enquanto nós, bicho da terra tão pequeno, como já sentenciou Camões, continuamos circunscritos a este estilhaço minúsculo, neste recanto de universo, que Terra tem por nome, com nosso destino atrelado ao destino das baratas e das moscas varejeiras. Ainda assim cheios de poesia em nosso triunfalismo enganoso. Quanto ao título “Deus não existe!…” pode ser tomado tanto no sentido literal, quanto no conotativo popular. Quando alguém nos surpreende de forma cabal, ou tem qualidades que superam quaisquer expectativas ou prescrições, nós dizemos simplesmente: “Fulano não existe!…” Assim me parece que seja Deus, uma entidade difícil de existir, mas se existe é surpreendente, sobejante, incapaz de se ajustar ao entendimento humano, aos dogmas religiosos, à ciência ou à vã filosofia. Portanto, o leitor que escolha o sentido que melhor lhe convier. Texto publicado originalmente na Revista Bula.